quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

afinade e amor

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e 


penetrante dos sentimentos. É o mais independente. Não importa 


o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as 


impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro 


retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto 


em que foi interrompido. Afinidade é não haver tempo mediando 


a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo 


para o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico 


sobre o superficial. Ter afinidade é muito raro. Mas quando 


existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Existia 


antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que 


as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade 


de expressar a um não afim, sai simples e claro diante de alguém


 com quem você tem afinidade. Afinidade é ficar longe pensando 


parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, 


comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavras. 


É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao 


entendimento. Afinidade é sentir com. Nem sentir contra, nem 


sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo. Quanta gente ama 


loucamente, mas sente contra o ser amado. Quantos amam e 


sentem para o ser amado, não para eles próprios. Sentir com é 


não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e 


perceber. É mais calar do que falar, ou, quando é falar, jamais 


explicar: apenas afirmar. Afinidade é jamais sentir por. Quem 


sente por, confunde afinidade com masoquismo. Mas quem sente 


com, avalia sem se contaminar. Compreende sem ocupar o lugar 


do outro. Aceita para poder questionar. Quem não tem afinidade, 


questiona por não aceitar. Afinidade é ter perdas semelhantes e 


iguais esperanças. É conversar no silêncio, tanto nas 


possibilidades exercidas quanto das impossibilidade vividas. 


Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem 


lamentar o tempo de separação. Porque tempo e separação nunca 


existiram. Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida,


 para que a maturação comum pudesse se dar. E para que cada 


pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais a expressão do outro 


sob a forma ampliada do eu individual aprimorado.

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